3.7.09

Outono de Brasília

Já inventaram mais de uma dezena de "Primaveras". A mais conhecida é a de Praga, a última dizem que acontece em Teerã. Mas pra falar a verdade eu sou meio cético com relação ao romantismo dos nomes dados a esses movimentos. Às vezes num mal súbito até chego a imaginar a "Primavera do Rio", em que o povo daria um “basta!” na violência (sonho burguês); a “Primavera de Bagdá" com os iraquianos resistindo à opressão ianque (sonho antiamericano); e vai por aí vai, primaveras dos mais variados gêneros.
Mas daí eu lembro que eu tenho um pé fincado no chão e que não me deixa sonhar muito, e que eu moro no Brasil. Os mais precipitados podem achar que agora eu vou vomitar asneiras anti-brasileiras à la Diogo Mainardi. Mas diferente do Diogo, acho que as minhas expectativas são bem mais... risíveis ou patéticas, se é possível.
Na minha cabeça, e eu creio nisso, o florescer do Brasil é um florescer eterno, um sonho intenso, diria Bilac, delirante pra mim. Um florescer que de tão demorado um dia acaba e as flores caem, assim, sem nem terem desabrochado. E desse jeito era uma vez o “florão da América”, aquele país do futuro. Pessimismos infantis à parte, só sei que a gente parece viver há uns 100 anos o porvir. Mas que a gente sempre esbarra em miudezas e por vezes em graudezas.
Quem sabe toda essa divagação seja inútil ou seja só uma sensação. E acho que é, por causa da política. Ou por causa de um rosto: Sarney, ou Sir Ney, como queiram. Ele me faz sentir que aqui há pouca ordem e pouco progresso. Esse homem é a personificação do que eu disse no parágrafo anterior. Dizem que quando ele surgiu pro público era o messias, o rosto da renovação, do novo jeito de fazer política (é normal um déjà vu nessa hora). Hoje... Bom, não preciso nem terminar a história. O Sarney é uma promessa inacabada igual à do chavão do “país do futuro”. Um eterno porvir. Acho que ele até acha que tem alguém que acha ele vale um voto e vá lá, talvez valha, talvez seja só conto de fadas, talvez seja hora dele sair de cena. Mereçe um fim abrupto.
Enfim, é desse jeito que a gente vai levando: devargar, devagarinho. Esperando o outono mas crendo que a primavera brasillis não tem fim.

Alguém há de ler e de me entender.

3 comentários:

c. disse...

Eu li e entendi! E, ooooha, Kraminho, se superou nesse texto, hein?! Não só nos argumentos muuuuito bem... argumentados (:B) como também na forma de escrever... Adorei que você citou Bilac (por queeee será?!) e adorei você falar das tantas primaveras! Parabéns! *tapinha na cabeça*
=D

adhy disse...

eu li e entendi. sem muitas palavras nem explicacoes. como uma leiga, paguei um pau XD

Anônimo disse...

Momento Kramer agora na web, viva! hahaha
Excelente texto hein, parabéns!